quarta-feira, 6 de julho de 2016

Pequenos apostam nos orgânicos

horta urbana em porto alegre
Adriana Bernardes

Para uma população que procura cada vez mais produtos saudáveis à mesa, o agricultor brasiliense se especializa no cultivo de vegetais sem agrotóxicos ecom o uso de tecnologia de ponta. E usa formas criativas a fim de fugir da crise

Muito antes de a comida sem agrotóxico virar uma tendência, o cafeicultor Márcio Jório decidiu que qualquer veneno passaria longe da lavoura. Agora vai além: lança no mercado a primeira cápsula de café orgânico certificado do Distrito Federal. Dono de uma pequena chácara de verduras e legumes cultivados sem produto químico, José Pinheiro precisava ampliar os ganhos e o número de clientes. Aumentou em 50% a renda ao entregar parte da colheita diretamente para o consumidor. Longe dali, o agrônomo Jean Phillippe abandonou a pecuária e migrou para o cultivo de vegetais orgânicos. A meta? Oferecer o produto o ano inteiro, um grande desafio para os pequenos agricultores do setor.

Os três produtores não se conhecem, mas, cada qual a seu jeito, constroem no dia a dia uma história de vanguarda. Não desconsideram a crise. Entretanto, superam as dificuldades colocando em prática as novas tecnologias aliadas à sabedoria dos antepassados para se reinventar num mercado competitivo, especialmente para os pequenos. No Distrito Federal, a terra vale ouro. Com um território de 578.280 hectares, somente 345.501 mil são agricultáveis. Aumentar a produtividade sem ampliar a gleba é o objetivo perseguido pela maioria. O Correio conta histórias inspiradoras de quem sobrevive da roça e alimenta o ideal de colocar à mesa alheia produtos saudáveis.

O cafeicultor Márcio Jório entrará para a história do Distrito Federal como o primeiro produtor de café orgânico certificado vendido em cápsulas. Ao agregar valor ao produto, a expectativa dele é aumentar os rendimentos em 50%. "Com a correria da rotina e a praticidade das cápsulas, a demanda é crescente", diz. A fim de embalar o café para máquinas de expresso, Márcio Jório envia o produto para uma multinacional portuguesa situada em Ribeirão Preto (SP). A empresa também passou por um processo de certificação pelo IBD Certificações para encapsular o produto. "Isso garante que o meu café não seja contaminado com outro. Todas as máquinas são limpas antes de eles iniciarem o procedimento", explica Jório.

Cuidados

A inovação é acompanhada de outros caprichos que tornam o produto mais especial. Até ser envasado em cápsulas, os grãos percorrem um longo e cuidadoso caminho. Dos 2 mil pés de café nascem sementes cultivadas sem qualquer produto químico. A lavoura, iniciada há quase 20 anos, é adubada com estercos naturais e rende 20 sacas por hectare. É bem menos do que plantio convencional - com agrotóxico colhe-se, em média, no Brasil entre 30 e 60 sacas por hectare. Mesmo com projeto de aumentar a produtividade, Márcio Jório não tem meta estipulada. A prioridade dele é manter o cultivo orgânico e tirar do solo o melhor resultado possível.


Na pequena agroindústria montada na propriedade, no Lago Oeste - distante pouco mais de 40km da Praça dos Três Poderes, o rejeito vira proteção para a terra e alimento para as plantas. A poda dos pés e a casca do café, são moídos e voltam para o solo. A escolha do grão a ser processado é manual, exatamente como se cata o feijão. Só vão para a torra os de primeira qualidade. O ponto de queima é ao gosto do produtor. Nem mais, nem menos. No máximo, dependendo do cliente e da quantidade da encomenda, Márcio Jório regula a máquina e entrega o pó com diferentes granulações.

Para garantir um sabor diferenciado, o agricultor investe em outra técnica: a do descansado. "Após a secagem, eu ensaco os grãos com a casca por um ano. Durante esse tempo de descanso, o grão absorve os açúcares naturais presentes na poupa. E isso reduz a acidez da bebida", explica. Apaixonado por café, Márcio Jório compara a degustação da bebida à do vinho. E mostra como o preparo do mesmo café proporciona diferentes sabores para diferentes momentos do dia,

Onde encontrar

No varejo é possível achar os produtos no Mercado Orgânico da Ceasa, às quintas e sábados, das 7h às 12h.

Mais informações: jean.diferencial@hotmail.com

Os cafés de Márcio Jório podem ser encomendados pelos telefones 3264-3997 e 9988-9257

Preços:

1 kg de grãos de café torrado: R$ 45

½ kg de café moído: R$ 12

1 caixa com 10 cápsulas: R$ 20

Produção o ano inteiro

Nascido na França, o engenheiro agrônomo Jean Philippe Butruille, 44 anos, vive no Brasil há três décadas. Casado e pai de três filhos, tentou a vida como pecuarista e produtor de grãos. Mas, devido ao tamanho da gleba, percebeu que não teria escala de produção para competir com os grandes. Por isso, há três anos, Jean migrou para a produção de frutas e legumes orgânicos. Na propriedade de 55 hectares em Padre Bernardo, município goiano a pouco mais de 100km de Brasília, ele encontrou solo e clima favoráveis ao cultivo de batata-inglesa, inhame, morango, cebola, cenoura, beterraba e brócolis. Jean foi pragmático ao adotar o cultivo orgânico. "No sistema convencional, a competição seria com proprietários de 100 ou mais hectares. Busco uma atividade em que eu possa ser grande, mesmo sendo pequeno. Entre os orgânicos, eu consigo isso", explica.

Jean ainda não está satisfeito. A meta agora é se especializar para manter a oferta dos produtos o ano inteiro. "Eu consigo fornecer quase tudo na maior parte do ano e, com isso, ganho mercado. Ainda tenho dificuldade com alguns produtos, como a beterraba e o morango. Por isso, pago um consultor que é referência na área orgânica para me orientar sobre a melhor tecnologia a ser aplicada", conta.

Segundo o franco-brasileiro, há um pensamento equivocado de se associar a produção de orgânicos a uma "lavourinha de fundo de quintal". A realidade é bem diferente. "Usamos muita tecnologia. Isso não significa adoção de defensivo químico, mas sim fazer a coisa certa na hora certa. Cobertura de solo, solarização, irrigação localizada (gotejamento) formam um conjunto de tecnologias indispensáveis no campo", destaca. Em tempos de crise, Jean contabiliza queda no volume comercializado. Apesar do aumento dos insumos, fica difícil reajustar os preços. "Para amenizar os efeitos, procuro fazer compras por atacado, diretamente do fornecedor, e não por meio do atravessador. E remunero melhor os funcionários com programa de participação nos lucros. Assim, consigo uma mão-de-obra mais qualificada e comprometida com o resultado", revela.

Um comentário:

Simone Felic disse...

Belo artigo, e assim o mercado fica enriquecido com produtos de qualidade,
que com certeza terão ótima aceitação mesmo em meio a qualquer crise.

http://eueminhasplantinhas.blogspot.com.br/

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